sexta-feira, setembro 24, 2010

Uma vida pública em poucas palavras

Maria Luísa, Senhorinha, Júlio Mesquita, Odete e Maria Quiterinha em pose para a posteridade, em Budens.
Permitam-me que vos fale um pouco de meu pai, Júlio Henrique de Jesus Correia de Mesquita. Nascido em Budens, em 24 de Abril de 1931, aos seis meses de idade foi infectado por polimielite (a poliomielite -paralisia infantil- é uma doença causada por um vírus, que causa paralisia por vezes mortal).
Após terminar o ensino primário rumou a Lisboa com os meus avós, tendo vivido na Rua de São Paulo 12 (ao Cais do Sodré). Na capital terminou os estudos secundários e ingressou no Instituto Industrial de Lisboa, tendo leccionado electricidade e mecânica.
Foi locutor da extinta Emissora Nacional de Radiodifusão (hoje grupo RTP) e após a conclusão do seu Curso trabalhou a nível técnico para a essa empresa, no Centro Emissor Ultramarino, em São Gabriel, Pegões, Canha. Em 1964 e por que eu «vinha a caminho», e também por razões políticas de gravidade, meus pais mudaram-se para Lagos.
Nesse período, meu pai começou a reparar equipamentos eléctricos (rádios e sondas) a bordo de barcos de pesca e mais tarde a fazer projectos de electricidade e instalações eléctricas na zona de Lagos e outras do país.
Ingressou como professor na Escola Industrial e Comercial de Lagos (mais tarde Escola Secundária Gil Eanes), tendo sido Director dos Cursos Industriais e estado durante alguns anos nos Conselhos Directivos dessa Escola (após o 25 de Abril), profissão que exerceu até à sua aposentação após cerca de 35 anos de serviço como funcionário público.
Desde jovem foi empenhado politicamente, no Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD-Juvenil) e mais tarde na LUAR (a Liga de Unidade e Acção Revolucionária foi um movimento político fundado em Paris, em 19 de Junho de 1967, sob a liderança de Palma Inácio, de quem era amigo pessoal  e que faleceu quatro dias antes dele -se bem que eu lhe tivesse ocultado esse facto até à sua partida). Em 1979 foi candidato pelo Algarve à Assembleia da República pela União da Esquerda para a Democracia Socialista (UEDS), com César Oliveira e Dorilo Seruca. Desde essa altura e até à sua morte nunca mais se envolveu em quaisquer actividades políticas e dedicou-se única exclusivamente ao ensino e aos cursos de formação (e à família, obviamente).
Faleceu em 18 de Julho de 2009, no Hospital do Barreiro, vítima de cancro. As suas cinzas repousam no cemitério de Lagos, em campa comum com os restos mortais de minha mãe.
Este foi parte do seu percurso público. Do privado muito mais há a dizer. Ficará para um dia, algum dia, em que a dor da sua partida já esteja mais desvanecida no meu coração.
Carlos Mesquita